A matriz da WEG fica em Jaraguá do Sul, Santa Catarina (Foto: Divulgação)
Desde quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o tarifaço de importações, o mundo empresarial, em especial a indústria, enfrenta incertezas sobre quanto, quando e onde investir, entre outros desafios. Mas esse não é o caso da gigante WEG, de Santa Catarina. O presidente da companhia, Alberto Kuba, afirmou em entrevista para a coluna que no plano estratégico da empresa nada mudou. Ela segue investindo em diversos mercados.
O foco da companhia é o longo prazo, destaca o presidente da WEG, Alberto Kuba (Foto: José Somensi, Fiesc, Divulgação)
A WEG adquiriu há poucos dias uma tradicional fábrica de tintas no país, a Heresite $ Protective Coatings, e está consolidando a integração da maior aquisição da sua história, da Regal Rexnord, concluída em maio de 2024. Sobre mais investimentos nos EUA, Kuba disse que a empresa está avaliando oportunidades.Kuba falou com exclusividade para a coluna antes de um evento para empresários, na última quinta-feira, em Florianópolis, iniciativa da revista Exame. Questionado sobre a mensagem que passaria a empreendedores, afirmou que destacaria o exemplo da WEG que, independentemente da localização, é possível construir uma empresa sólida e sustentável com um bom plano de negócios e disciplina.
Veja a entrevista a seguir:
Desde que Donald Trump anunciou as tarifas, a WEG comunicou mais um investimento nos Estados Unidos. A companhia mudou planos em função da nova situação tarifária norte-americana?
– Um ponto importante — que já comentamos algumas vezes — é que sempre adotamos uma visão de longo prazo. Quando olhamos nessa perspectiva, a volatilidade de curto prazo se torna menos relevante. No longo prazo, há uma tendência de racionalidade nos movimentos de mercado. Acreditamos que esse cenário atual, que tem gerado volatilidade, será ajustado com o tempo.
Por exemplo, mesmo que os Estados Unidos venham a impor tarifas ao México ou ao Canadá, isso não significa que essa política será mantida indefinidamente. México e Canadá continuam sendo parceiros estratégicos para os EUA, e por isso mantemos nossos investimentos no México. Consideramos o país um case de sucesso para fornecimento e ideal para atender o mercado norte-americano.Da mesma forma, seguimos investindo na China. Porém, o objetivo lá não é produzir para exportar aos Estados Unidos ou ao Brasil, mas sim atender o próprio mercado chinês e o Sudeste Asiático. Ou seja, em nosso plano estratégico nada mudou. A WEG já investia pensando na descentralização da produção, sempre com foco no mercado local. Isso está alinhado com o cenário atual.
As tarifas americanas, ao serem definidas, inclusive reduziram a incerteza. No caso do Brasil, foi imposta uma tarifa adicional de 10%, o que foi aplicado de forma generalizada. Se todos receberam a mesma tarifa, o ponto de partida subiu para todos. Em termos competitivos, ainda continua mais vantajoso produzir aqui do que nos Estados Unidos, mesmo com essa diferença de 10% nas tarifas.
Vocês anunciaram recentemente um investimento nos Estados Unidos…
– Sim. Fizemos uma aquisição, que em termos de valor foi considerada pequena: US$ 9,5 milhões. Trata-se da Heresite $ Protective Coatings, uma empresa com 90 anos de atuação, especializada em tintas para proteção em ambientes como o setor de óleo e gás. É uma empresa consolidada, com presença também no Oriente Médio e na Ásia. Com essa aquisição, conseguimos complementar nosso portfólio com os produtos deles e dar continuidade ao processo de internacionalização da WEG Tintas.
A WEG Tintas é, hoje, a menor unidade do grupo, mas já vínhamos preparando sua expansão internacional. Há alguns anos, investimos em uma fábrica de tintas em pó no México e, mais recentemente, anunciamos uma unidade de tintas líquidas, também no México, com o mesmo foco das operações de motores: atender o mercado norte-americano.
A aquisição da Heresite complementa essa estratégia. Temos a fábrica no Brasil, uma unidade importante no México e agora uma operação mais enxuta nos EUA, voltada para produtos especiais. Com isso, poderemos exportar para novas regiões, utilizando a reputação consolidada da Heresite.
E aquela grande aquisição nos Estados Unidos, feita há cerca de um ano e meio? A empresa já está integrada à WEG?
– Foi em maio do ano passado (a aquisição da Regal Rexnord, produtora de motores elétricos e geradores). Trata-se da maior aquisição da história da WEG, envolvendo três empresas com mais de 2.800 colaboradores e uma receita anual próxima a 450 milhões de dólares. Pagamos cerca de 400 milhões de dólares. Como toda integração de portfólio e processos, é algo que exige tempo. Mas completamos um ano da aquisição recentemente e estamos muito satisfeitos com a velocidade da integração. Tudo tem ocorrido conforme planejado.
A WEG tem outros investimentos previstos para os EUA?
– Essas aquisições já incluíram duas novas fábricas nos Estados Unidos. Com isso, passamos a contar com oito ou nove fábricas no país — não lembro exatamente o número agora. Dado o atual cenário tarifário, não faz sentido simplesmente transferir produção para lá.
Estamos avaliando as oportunidades que surgem com a política econômica americana, especialmente com o foco do presidente Donald Trump em impulsionar a produção interna. Nosso objetivo é escalar, nessas fábricas, os produtos que já fabricamos localmente, aproveitando a demanda por itens “made in USA”.
Atualmente, a empresa exporta muito ainda do Brasil para os EUA?
– Sim, exportamos bastante. No passado, quase toda a produção era feita no Brasil. Hoje, o México já ocupa a maior parte da nossa produção para atender os Estados Unidos. Dependendo do portfólio, Brasil e EUA compartilham volumes semelhantes.
Essa instabilidade nas tarifas afetou vocês? Como está o balanço do primeiro trimestre?
– O balanço do primeiro trimestre está totalmente em linha com o que esperávamos. Ainda não fomos impactados pelas tarifas, pois houve uma postergação de 90 dias. Se houver impacto, será no segundo semestre. De todo modo, o movimento tarifário tem sido uniforme para todos. O que está ocorrendo é um ajuste geral de preços no mercado americano. Todos estão ajustando os preços e, com isso, o baseline de preços está mudando. Não esperamos impacto relevante em nossa operação.
Qual será a sua mensagem a empreendedores neste evento em Florianópolis?
– Pretendo compartilhar a experiência da WEG e usar nossa trajetória como inspiração para quem está iniciando ou ampliando seus negócios. Estamos em uma região com empresas promissoras, algumas já em estágio de consolidação. O exemplo da WEG mostra que, independentemente da localização, é possível construir uma empresa sólida e sustentável com um bom plano de negócios e disciplina.
Fonte: NSC Total