SER CATARINA 10

Com este provérbio de navegadores espanhóis se tem uma ideia da realidade daqueles tempos.Junto ao aspecto formal e comercial das expedições marítimas da grande "Era dos Descobrimentos" que, sem dúvidas foi a maior aventura humana de todos os tempos, superando largamente a corrida espacial, havia o aspecto aventureiro e trágico, na verdade era "coisa de maluco"...compostas as tripulações de uma mescla de classes sociais e etnias múltiplas, resumia-se sempre de um "barril de pólvora" flutuante onde os comandantes tinham plenos poderes a bordo e em terra, havia pesados castigos físicos para se manter a disciplina e evitar erros ou falhas no manejo das tralhas e velas quando uma simples falta colocava em risco a tripulação toda com fáceis naufrágios e o risco de motim sempre constante, já que se tratava de gente bruta e rude.

O desconforto era total e a alimentação, quando havia, era composta de carne seca, peixe salgado, biscoito duro, muito álcool (no início, antes do rum, era um vinho turvo e avinagrado), toucinho, grão de bico, sal, açúcar, mel e pouca água (três cuartillas por dia, cerca de um litro). A marujada era formada por jovens perdidos, criminosos, fugitivos tentando manter a liberdade...a navegação era quase às escuras baseando-se na observação astronômica...astros e estrelas quando podiam ser vistos...instrumentos rudimentares e pouco precisos como o astrolábio e o sextante, a bússola, e as profundidades eram medidas por uma pedra amarrada na extremidade de uma corda medida em braças, o espaço entre uma mão e a outra com os braços esticados para os lados do corpo. 

Astrolábio

Sextante


A grande maioria dos tripulantes não retornava à Europa, ou morria pelos maus tratos, fome, confronto com nativos, doenças como o escorbuto resultado da carência de vitamina C por não haver a bordo alimentos frescos como frutas e verduras. Para se ter uma ideia, a expedição de Fernão de Magalhães que saiu de Espanha em 1519 para a primeira circunavegação com 286 homens voltou em 1522 com apenas 18 sobreviventes...e na Ilha de Santa Catarina não foi diferente, um dos casos mais curiosos foi o do galeão espanhol San Gabriel chegado em abril de 1526 no Puerto de los Patos (atual Palhoça) comandado por Don Rodrigo D' Acuña desgarrado da esquadra de Don Jofré de Loyasa que conseguiu, este, atravessar o temeroso Estreito de Magalhães. Ao ancorar foi abordado por alguns cariió que chegaram em uma canoa feita de garapuvu, conseguiram transmitir a notícia da existência de espanhóis em terra (aqueles de Solis). Sabendo da existência de crianças filhos daqueles náufragos, Don Rodrigo mandou seu capelão de bordo ir à terra e batizá-los. No retorno a bordo com víveres o batel afundou matando vários tripulantes causando desespero nos marujos que iniciaram um motim para desembarcarem e também passarem a viver alí, quinze homens conseguiram fugir para terra, a situação ficou insustentável, alguns dias depois o comandante Don Rodrigo consegue iniciar viagem com apenas metade da tripulação tendo como objetivo o contorno do Estreito de Magalhães e o acesso às Ilhas Molucas mas o que conseguiu foi atingir o litoral do nordeste brasileiro na Foz do São Francisco onde foi assaltado por piratas franceses e abandonados os restantes marujos num batel sem recurso nenhum tendo atingido as praias do Pernambuco...só em dezembro de 1528 Don Rodrigo e apenas seis de seus iniciais setenta e sete homens retornaram à Espanha...


continua...

Por Wander Pugliese