Infelizmente a questão Israel & Palestina transcendeu as fronteiras do Oriente Médio, como acontece com a maioria dos conflitos que respingam em outros países. Um jovem casal de funcionários da embaixada de Israel em Washington, nos Estados Unidos, foi estupidamente assassinado na quarta-feira, dia 21 de maio. O assassino achou que dessa forma retaliaria Israel por seus ataques em Gaza. Mais um sujeito desmiolado que não mede as consequências dos seus atos e que, por isso, vai passar o resto da vida na penitenciária. Só não vai para o corredor da morte porque na capital americana a pena de morte foi abolida.
O que este assassinato mudará em relação às ações de Israel? Absolutamente nada. Inclusive outros países que estavam criticando o governo israelense por boicotar a entrada de ajuda humanitária em Gaza pisaram no freio. Se debulharam em lamentações, voltando a demonstrar despudoradamente simpatia pela política de Israel. Enquanto isso, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse estar “devastado” com o assassinato do casal. Como é sensível esse homem...
Temos de lamentar profundamente o destino brutal desse casal, que não tinha qualquer ingerência na política de Netanyahu. Mortes assim chocam, faz a gente desacreditar cada vez mais na humanidade. Entretando, temos de voltar à questão dos dois pesos e duas medidas. Enquanto Netanyahu mostrava profunda tristeza pela tragédia, e líderes mundiais derramavam lágrimas em seus pronunciamentos, os mísseis continuavam bombardeando Gaza e matando centenas de palestinos, sobretudo mulheres e crianças. Só nas duas primeiras semanas de maio morreram mais de 300 pessoas com os ataques israelenses.
Qual a desculpa de Israel? Que atiraram para matar terroristas do Hamas. As mortes dos civis são consideradas “danos colaterais”. Seria o mesmo que derrubar um Boeing 747 lotado de passageiros para matar um terrorista que estivesse a bordo. “Danos colaterais” pressupõe danos não intencionais. Mas já estamos fartos de saber que não é este o caso da política genocida de Netanyahu, que não esconde seu plano de exterminar os palestinos. É uma limpeza étnica. Tanto é, que ele quer, com o apoio de Trump, transformar Gaza num enorme resort. Simplesmente expulsando os palestinos de sua terra. Para cumprir este plano, Israel já ocupa 77% do território de Gaza e, mesmo assim, neste domingo (25), os bombardeios mataram mais 30 pessoas.
Nesses ataques morrem, entre a população civil, médicos, funcionários que fazem trabalhos humanitários, jornalistas e quase nunca os terroristas que Israel diz serem seus alvos. Negociar com terroristas é sempre uma empreitada fadada ao fracasso, pois suas ações desconsideram leis, tratados ou passam por cima de pactos feitos para um cessar fogo. Mas, nem mesmo essa possibilidade dá direito ao outro de atacar indiscriminadamente quem esteja do lado dos terroristas, pois nem todos são. A população que abriga grupos que promovem o terror é a primeira vítima, ela geralmente já vive sendo aterrorizada por esses grupos.
Como Israel também ignora esta relação complexa entre o terror e a população oprimida, está agindo num completo desacordo com leis e tratados, pondo-se no mesmo nível de um estado terrorista. A reação de Israel ao grupo Hamas pela morte de 1200 israelenses foi a morte de mais de 50 mil palestinos. Então, que nome daremos a isto?
Por Eumar F. Silva