Há muitos anos que Trump é um produto midiático. Seu fraco são os holofotes e ele nunca se importou em ter uma imagem de cafajeste e de estar associado a gente infame. As histórias que o envolvem em trapaças são muitas, e até uma sobrinha, a psicóloga Mary Lea Trump, jogou pesado contra ele no livro Demasiado e nunca suficiente: como a minha família criou o homem mais perigoso do mundo, lançado em 2020. Mas a faceta de Trump que mais se notabilizou pelo mundo afora antes dele chegar à Presidência dos Estados Unidos foi a do inclemente apresentador do programa O Aprendiz, na rede NBC, em Nova York, em que demonstrava enorme prazer em mandar embora os pretendentes a um cargo na sua empresa que não tinham alcançado um desempenho satisfatório.
O que todos temiam era o veredito: “Você está demitido!”, em que ele deixava transparecer um enorme desprezo por seus subordinados. E esse homem foi eleito duas vezes presidente do país. O desempenho de Trump como presidente, na primeira vez, foi muito no sentido de desqualificar seu antecessor e revogar decisões dele, tentando convencer todos de que assim a América seria grande de novo. Passaram-se quatro anos e a América continuou a mesma, só que com mais problemas. E na sua volta à Casa Branca repetiu essa tática e transformou definitivamente seu mandato num show. A coisa piorou muito. Não há uma decisão que tome sem que transforme o evento num circo. É um falastrão, não pode ver um microfone que já abre a boca, ou faz caras e bocas se tem uma câmera na redondeza. Como no Império Romano, em que imperadores loucos ou perversos tomavam decisões arbitrárias ou insanas que transformavam a vida dos cidadãos num inferno, Trump caminha para ser imortalizado como um dos sujeitos que tornaram o mundo pior.
Com uma soberba sem tamanho, acha que tanto países adversários quanto aliados têm de se ajoelhar diante dos Estados Unidos e aceitar as imposições do seu governo. Talvez ele negociasse assim no ramo imobiliário, mas negócio com outras nações requer tato e diplomacia, e não ameaças e imposições. No entanto ficou claro que seus métodos não estão dando certo, especialmente porque ele encontrou pela frente uma Europa unida, e uma China preparada para o que der e vier. Sem contar que ele terá que roer o osso dos Brics, grupo de países emergentes, do qual Brasil e China fazem parte, que estão a caminho de substituírem o dólar por outras moedas nas suas negociações. Outra chaga aberta pelo governo Trump é a xenofobia e a real perseguição a imigrantes. Tudo bem que ninguém aprova a imigração em massa de forma ilegal, mas o problema é que há visivelmente uma carga de ódio muito grande nessa política. O desprezo ao imigrante se estende às nações. A presunção é tão grande que Trump já disse que os Estados Unidos não precisam do mundo, mas o mundo precisa dos Estados Unidos. Esse show está sendo tão eficaz que toda a atenção mundial, nos dois últimos anos voltada para os conflitos em Gaza e na Ucrânia, se desviou para o assunto tarifas. E enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vai disparando uns mísseis aqui, outros lá, vai matando 40, 100, 400 palestinos de cada vez para eliminar um ou dois chefes do Hamas, e vida que segue.
Parece que nenhum chefe de Estado está se preocupando mais com isso, e nem a imprensa dá mais bola para o terror imposto por Israel. Aliás, a imprensa deu destaque a Netanyahu sim, quando ele foi passear em Gaza e ver os destroços causados por suas bombas que estão abrindo espaço para a construção de um resort gigantesco, que ele e Trump sonham instalar onde era a pátria dos palestinos. O que parece que Trump está conseguindo é o repúdio mundial e mais uma vez levando os Estados Unidos a serem vistos como um país hostil, como ocorreu na ocasião da invasão do Iraque.
E o pior de tudo, não vai resolver os problemas internos, segundo preveem analistas políticos e econômicos e professores das maiores universidades americanas. Essa América grande de novo só existe mesmo na cabeça abestalhada de Trump.
Por Eumar F. da Silva