O efeito Trump

Estes sinais são indícios de que os Estados Unidos estão sendo vistos com menos simpatia pelos governos e população de outros países. Um trumpista poderia dizer que isto não tem a mínima importância, pois o que o governo Trump está fazendo é tornar a América grande de novo. Pura bobagem. A América não deixou de ser grande e continuará sendo por muito tempo. A ideia de torná-la grande de novo partiu mais de uma percepção interna de que o sonho americano é coisa do passado e de que há uma deterioração social e econômica no país. Só que em vez de buscar as raízes dos problemas, a administração Trump preferiu partir para a agressão e o confronto com outros países, e jogou nas costas dos imigrantes a responsabilidade pela deterioração da América.

Qualquer que seja o motivo dessa decadência, as bravatas de Trump não vão atenuá-la. Pelo contrário, estão disseminando uma onda de antipatia. Como dito pela BBC, a primeira reação foi levar à vitória no Canadá e na Austrália candidatos de centro-esquerda. Antes das eleições, os candidatos conservadores, da linha trumpista, estavam com a vitória dada como certa. Mas bastou Trump abrir a boca que a esquerda virou o jogo. Isto pode parecer irrelevante, já que países como o Equador e a Romênia elegeram presidentes da linha conservadora. A questão é que o Canadá e a Austrália são países super relevantes no cenário mundial e são aliados históricos dos Estados Unidos.

Outra percepção dessa reação, segundo a BBC, é a perda de prestígio dos Estados Unidos. Ao longo dos anos, os americanos cuidaram muito de sua reputação, mas nos últimos meses a imagem internacional do país perdeu alguns pontos. De acordo com a BBC, uma pesquisa do Instituto Ipsos, que tem sede na França, revelou que a crença de que os Estados Unidos terão uma “influência positiva” nos assuntos mundiais na próxima década caiu de 59% em outubro de 2024 para 46% em abril deste ano. A pesquisa foi feita em 29 países, e as maiores quedas nesse índice foram registradas no Canadá, onde caiu 33 pontos, e na Holanda, com uma queda de 33%. No México caiu 21%. No Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Argentina também houve queda, mas, ainda assim, o prestígio dos Estados Unidos está acima de 50%. Ao mesmo tempo, nessa pesquisa feita em abril, a China foi considerada uma influência positiva por 49% das pessoas desses 29 países,  um aumento de 10 pontos percentuais desde outubro do ano passado. 

A terceira indicação dessa reação negativa aos Estados Unidos apontada pela BBC é a queda do turismo, o que significa prejuízos econômicos. Em dezembro, a previsão da empresa de análise Tourism Economics, ligada à consultoria inglesa Oxford Economics, era a de que haveria um incremento de 8,8% nas visitas internacionais aos Estados Unidos. Quatro meses depois desta previsão, a empresa atualizou seus cálculos e agora está projetando uma queda de 9,4% para 2025. Até agora a maior queda no movimento turístico veio do Canadá, com uma redução de 20% de visitantes. Segundo a BBC houve também quedas consideráveis em relação ao ano passado nas reservas de voos para o verão provenientes de países como a Holanda, Alemanha, Equador e México. 

O que torna um lugar atraente para o turismo é a combinação de paisagens, patrimônio cultural, gastronomia, cultura, além da infraestrutura e as experiências únicas que são oferecidas. Muitos outros elementos podem ser acrescentados a esta lista e os motivos que cada um tem para programar uma viagem são diversos. De qualquer forma, os Estados Unidos têm de tudo, têm uma exuberante oferta para agradar pessoas do mundo inteiro. Mas se os próprios americanos estão ficando assustados e pessimistas, não seria diferente com aqueles diretamente atingidos pelas ações e a arrogância de Trump.

Na contramão dessa queda no movimento turístico, alguns destinos da Europa estão pedindo para os turistas irem embora. Moradores de Veneza, na Itália, Barcelona e Ilhas Canárias, na Espanha, Amsterdã, na Holanda, Santorini, na Grécia, e outros destinos italianos, tailandeses e croatas estão pedindo por favor para os turistas sumirem, pois a vida deles se tornou um inferno com tanta gente andando por lá. No domingo, dia 18 de maio, moradores do arquipélago das Canárias foram mais uma vez às ruas pedir a redução do turismo de massa. Com o slogan “Canarias tiene un límite”, habitantes das sete ilhas do arquipélago espanhol, que fica na costa do Marrocos e do Saara Ocidental, pedem um controle do movimento turístico.

Este impacto é negativo para os moradores, que quando estão incomodados esquecem os benefícios econômicos do turismo. E quando se fala em benefícios econômicos, os Estados Unidos levam muito a sério o que está entrando no caixa. A Flórida, por exemplo, estado em que Donald Trump passa boa parte do seu tempo nos campos de golfe, será um dos mais prejudicados por esta reação no turismo. Agora é só esperar e ver por quanto tempo vai durar a soberba do presidente.

Por Eumar F. Silva