Ensaio para o apocalipse

Donald Trump já governa os Estados Unidos há cinco meses, e o quadro que se apresenta no momento é de um mundo mais conturbado, com perspectivas mais sombrias do que em janeiro, quando ele assumiu a presidência. Todos estavam aguardando sua interferência na guerra entre Rússia e Ucrânia e ficou claro que era apenas conversa fiada quando ele disse que acabaria com a guerra em 24 horas assim que tomasse posse. O conflito, na verdade, piorou. Outra interferência sua seria em Gaza. Nada. Ao contrário, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se animou com Trump no governo e passou a bombardear mais ainda o território palestino. Com isso, o ódio contra o Estado de Israel no Oriente Médio só aumentou. 

Agora, com a desculpa de que o país estava desenvolvendo armas atômicas, Netanyahu resolveu bombardear o Irã, atacando sua central nuclear, matando cientistas e chefes militares. Em seguida passou a atacar a capital Teerã, matando civis indefesos e ameaçou assassinar o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. O desentendimento entre as nações está se deteriorando rapidamente. Cadê o pacifista Trump? Nada. Ao contrário, ele anda até fazendo  ameaças ao Irã. Para quem espera o fim do mundo, a situação atual está parecendo um ensaio para o apocalipse. 

Por que o nome de Trump surge num momento desse em que se discute conflitos que estão a léguas dos Estados Unidos? Simplesmente porque ele é líder da nação supostamente mais armada do mundo, que tem mais de 800 bases militares espalhadas nos seis continentes. É uma força de imposição e persuasão sem igual. No fim, aliados e não aliados acabam esperando que os Estados Unidos tomem frente nas negociações. Se Trump pretende mesmo agir, está deixando que a pólvora dos outros queime toda. 

Para Trump, porém, a crise não é apenas longe de casa.  O mar também não está pra peixe nos Estados Unidos. Trump está tendo de digerir protestos em várias cidades americanas. Pode parecer que é uma reação à política de imigração e à caça aos imigrantes, mas tem muito mais caroço nesse angu. Existe insatisfação com o governo, mas a resposta tem sido repressão violenta e dissuasão de manifestações dos descontentes. O inusitado neste momento foi a organização de uma parada militar no dia do aniversário de Trump. Uma demonstração de força que ninguém entendeu. Se o presidente americano não tem competência para gerenciar os problemas internos, o que se pode esperar em relação a outros países que estão disparando seus mísseis? 

As guerras de grandes proporções começam com conflitos localizados, que vão se alastrando, contaminando vizinhos, e quando se vê estão todos envolvidos. Foi dessa forma que quase todas as guerras terminaram com centenas de cidades destruídas e com milhões de mortos. O tenebroso é que hoje, com a tecnologia disponível e com o poder de destruição em massa à disposição de lunáticos e sociopatas, o cataclismo está logo ali na esquina.

Por Eumar F. Silva