Numa entrevista no início de 2023, o falecido Papa Francisco disse que não esperava ser o Pontífice durante a Terceira Guerra Mundial, motivado naquele momento pelo primeiro aniversário da guerra da Ucrânia. Ali já dava para perceber que o conflito seria longo. A resistência da Ucrânia aos ataques russos estava sendo maior do que o esperado, ao mesmo tempo que o fornecimento de armas pela Europa e Estados Unidos só aumentavam as hostilidades. Então vieram as sanções comerciais contra a Rússia, que criaram mais uma barreira a qualquer entendimento. E já se vão três anos e três meses sem que algo eficaz tenha ocorrido para o fim da guerra.
Francisco morreu antes que ocorresse uma guerra mundial, mas, em parte, ele teve um pontificado salpicado por guerras regionais em pelo menos três continentes, que envolveram direta e indiretamente nações de todo o mundo. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres, apontou no seu mapa em 2024 a tendência de 134 conflitos no mundo. Era a tendência. Hoje existem, pelo menos 50, uns menores e outros de grande proporção. Os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia e o de Israel e palestinos se tornaram guerra. E agora Índia e Paquistão começaram a se estranhar novamente, por causa da região da Caxemira, disputada desde a década de 1940. Do pequeno conflito para uma guerra de grandes proporções é um passo, e a maioria das guerras hoje em curso tiveram início em pequenas complicações. O perigo no caso de Índia e Paquistão é que esses países são potências nucleares.
Considerando a questão geopolítica, o confronto entre Rússia e Ucrânia tinha e tem potencial para se alastrar. Uns 2 mil quilômetros dali, em direção à linha do Equador, havia o irremediável conflito entre Israel e os palestinos, também com potencial para envolver outros países, especialmente o Irã, arqui-inimigo dos Estados Unidos. Na época, como ainda hoje, toda essa hostilidade podia ser prenúncio de uma terceira guerra mundial de fato. Francisco não estava sendo apenas eloquente. As peças estavam sendo movidas no tabuleiro.
Não foi à toa que na sua primeira oração pública de domingo, dia 11 de maio, o Papa Leão 14 lembrou os apelos de Francisco e conclamou as nações a terminarem com as guerras. O Papa é um líder religioso, mas é também um chefe de Estado, ouvido e respeitado por líderes políticos. O que ele diz e pede, de uma forma ou de outra acaba entrando na pauta de discussões de muitos líderes mundiais. A questão destoante é que por trás das palavras e demonstrações políticas de interesse pela paz, há uma poderosa indústria bélica que precisa vender armas para sobreviver. Pode até haver cessar-fogo em muitos desses conflitos, mas alguns precisam existir, para consumir o material bélico produzido nos países dos mesmos políticos que aplaudem o Papa.
Dá para dizer que é mais fácil colonizar Marte, Júpiter e Plutão que conseguir a paz mundial.
Por Eumar F. Silva