A paz com o dedo no gatilho

Em meio à comoção pela morte do Papa Francisco em Roma, uma imagem se destacou como esperançosa para o futuro próximo, no campo da paz. Nela, o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, estão a sós, conversando dentro da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Qualquer um poderia dizer que foi um avanço nas negociações de paz, uma vez que Trump passou a acusar Zelensky de não querer o fim da guerra. Logo depois se soube que aquele encontro de 15 minutos serviu mais para confirmar que as negociações continuariam e que Trump tinha agora acusado o presidente da Rússia, Vladmir Putin, de boicotar o cessar-fogo, ao ter lançado um ataque de mísseis e drones a Kiev, capital da Ucrânia, que matou nove pessoas e feriu 70. 

Trump, usando sua rede Truth Social, deu uma de comovido ao dizer “Muitas pessoas estão morrendo!!” Pois é, só contaram isto pra ele agora. Até então os ataques israelenses em Gaza, com o apoio dos governos de Joe Biden e do próprio Trump já mataram mais de 50 mil pessoas. Analistas independentes dizem que foram mais de 60 mil os mortos, a maioria civis, sendo grande parte mulheres e crianças.
As nações ocidentais sempre têm dois pesos e duas medidas quando se trata de mortes, catástrofes ou injustiças. Ocorre, por exemplo, no tratamento dado pelos governos americano e europeu, e na própria abordagem da sua imprensa, quando 50 mil mortes de palestinos não é uma questão tão grave quanto a morte de 10 pessoas nos seus países. Um Tsunami na Ásia que mata 200 mil pessoas não se compara a um furacão no leste dos Estados Unidos que mata 5 pessoas. Da mesma forma a prisão arbitrária e brutal de estrangeiros nos Estados Unidos não tem a mínima importância diante da prisão de um ocidental na Rússia ou num país asiático. O Brasil não é diferente ao se alinhar a esse “euro-americano centrismo”. Basta alguém morrer no metrô de Nova York que poderá ganhar mais destaque na imprensa brasileira do que 20 ou 30 mortos em um acidente num país vizinho ao nosso.
Trump se acha o mentor da paz, ao mesmo tempo que o seu país lança mísseis em todas as direções com o pretexto de combater terroristas ou defender a democracia. Há menos de duas semanas, um ataque americano no Iêmen, no Oriente Médio, matou 58 pessoas. A desculpa era combater rebeldes huthis, apoiados pelo Irã. Estes avisaram que vão reagir com uma escalada da violência. Como se vê, o remédio está errado. 

Uma das promessas de Trump, ao se eleger presidente, foi a de anexar o Canadá aos Estados Unidos, tornando-o o 51º estado americano, e tomar posse da Groelândia, território autônomo  da Dinamarca. Não se concebe anexação ou apropriação de um território alheio sem que haja um conflito, na maior parte das vezes armado. Ainda mais porque as partes contrárias envolvidas repudiaram esse ideia. Invasões sempre resultam em muitas baixas militares e morte de civis. Então, longe da diplomacia e pronto para puxar o gatilho, Trump está mais para Napoleão Bonaparte do que para Mahatma Gandhi ou Papa Francisco. Tendo por trás de si a mais poderosa indústria bélica do mundo, para Trump é bem mais fácil apertar o botão vermelho.

Por Eumar F. da Silva